terça-feira, 25 de setembro de 2012

CARTA AO LEITOR - Boletim ViaInTC- Agosto de 2012



Merece comentários nesta carta ao leitor o significado que percebemos da 64ª reunião anual da SBPC - realizada no Maranhão. A edição deste ano teve como tema central Ciência, Cultura e Saberes Tradicionais para enfrentar a pobreza, e trouxe à tona o enfrentamento de nossos problemas sociais e econômicos a exigir o reconhecimento de um diálogo constante entre os diversos saberes.

A mesa dedicada à relação dos saberes tradicionais com a pesquisa científica, desenvolvimento de produtos e processos para enfrentar a pobreza traduziu a existência de um Brasil diverso, que necessita ser reconhecido e integrado, incorporado ao ambiente acadêmico e aos esforços científicos de construção do conhecimento.
Segundo o antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, da Universidade Estadual da Amazônia, “a emergência das biotecnologias modernas, da mercantilização da biodiversidade e do patrimônio genético mudou o jogo", conferindo valor econômico ao uso que antes não era considerado, devendo os saberes tradicionais ser normatizados, a fim de preservar e respeitar o direito desses grupos, o que está assegurado na Convenção 169 sobre povos indígenas e tribais da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Assim, há necessidade premente de modernização da legislação nacional, de maneira a contemplar e proteger essa herança para que seja incorporada à indústria de forma justa e igualitária.

Já a profa. Vanderlan Bolzani, da Unesp, reafirmou o conhecimento tradicional como uma valiosa fonte de investigação científica e tecnológica. Diz Bolzani que o conhecimento sobre plantas nativas em todas as culturas demonstra que elas podem ser benéficas ou maléficas, e a sua transformação em mercadorias depende do desenvolvimento de CT&I, hoje dominado por países europeus, pela China e pelos Estados Unidos.

O Brasil, afirma Bolzani, é um mercado em potencial na exploração de plantas medicinais por ser rico em biodiversidade, mas incipiente quando comparado ao mercado internacional, e detendo ecossistemas que precisam ser investigados.

O grande problema colocado durante a reunião da SBPC referiu-se à enorme precariedade da educação básica brasileira, cuja educação científica é incipiente, evidenciando um desamparo infantil concreto, mencionado pelo físico Sérgio Mascarenhas como um dos problemas mais graves e profundos do sistema educacional.

Trata-se de uma idade muito rica, onde o estímulo é fundamental e a criatividade da criança pode fazer dela um profissional com excelentes ideias e propostas. “A base na educação infantil garante um cidadão bem preparado, inclusive para enfrentar as adversidades de seu país", afirmou.

O cientista e divulgador da ciência, Antônio Pavão, diretor do Espaço Ciência do Recife, afirmou ser essencial levar a pesquisa para a escola, de forma a "ensinar ciências fazendo ciência. Queremos o estudante-cientista desde bem pequeno", declarou.  "A criança tem aquela característica de cientista de perguntar sempre e ter resposta para tudo. Não tem cabeça fechada, é aberta à argumentação. Mas quando cresce, deixa de ser cientista, porque a escola mata isso dentro dela." 

É emblemática a colocação feita pela profa. Suely Druck (UFF) ao declarar que embora no Brasil nos últimos anos o avanço da C&T tenha sido fantástico, o progresso na área de ensino de ciências na educação básica é extremamente pequeno em relação à sua necessidade, resultando na perda de muitas oportunidades por não ter uma boa educação nesta área. No entanto, ela afirma, os países estão de olho no Brasil, pois nenhum outro tem 50 milhões de jovens nas escolas e universidades, e muitas empresas e universidades do exterior priorizam os sul-americanos que têm mais facilidade de adaptação que os orientais. Para a professora, a exclusão científica e todos os danos que ela causa precisam ser combatidos seriamente e aponta que a sociedade brasileira aceita a exclusão, razão pela qual não caminhamos mais rápido do que poderíamos caminhar.

Resta saber se tais falas expressas pela comunidade científica e tecnológica brasileira irão ecoar e promover e influenciar medidas e políticas necessárias à melhoria da educação brasileira cujos reflexos são imediatos no desenvolvimento nacional da CT&I.

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