quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Brasil avança no ensino superior, mas ainda fica na lanterna do continente

Brasil Econômico, 20/1

Estudo do Ipea mostra aumento de 123% na frequência de cursos ao longo da última década
O Brasil avançou ao proporcionar maior acesso ao ensino superior à sua população ao longo da última década. No entanto, o país ainda continua na última colocação da América Latina no indicador. Essas são as conclusões do estudo Juventude e Políticas Sociais no Brasil, divulgado na terça-feira (19/1) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

De acordo com o trabalho, em 2007, 13,2% da população dos jovens (entre 18 e 24 anos) no país freqüentavam a universidade. Embora o número ainda esteja abaixo das metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) - que prevê estender esse percentual para 30% até 2011 - ele representa um aumento de 123% sobre o resultado que era apurado em1996, de 5,8%.

Apesar do avanço na inclusão educacional, o Brasil ainda não conseguiu sair da "lanterna" do continente. O estudo do Ipea mostra que o Brasil tinha 213 estudantes para cada 10 mil habitantes em 2007. Trata-se de um número inferior ao de países como a Argentina - líder da região, com 531 - e mesmo da Venezuela (389) e da Bolívia (347).

"Claro que quanto maior o nível de qualificação dos trabalhadores, maior é a produtividade e o desenvolvimento do país", diz a economista Priscilla Matias Flori. Segundo ela, as dúvidas que existem são se o ensino superior em oferta hoje é eficiente e capacita os jovens a fazer a diferença no progresso do Brasil. "Considero que a resposta para essas perguntas é a mesma: não. Distribuir diplomas para que o percentual aumente não é a solução", completa.

Avanço desigual

Segundo o estudo, a principal responsável pelo aumento no número de vagas foi a política encampada pelo Ministério da Educação de incentivar a expansão das matrículas no setor privado através de bolsas e financiamentos.

No entanto, "talvez o que mais preocupe seja a qualidade desses cursos superiores, e não a quantidade de pessoas que estão neles. O que vemos, infelizmente, é uma proliferação de universidades particulares que nada acrescentam para o conhecimento do aluno. Esse é um fator que pode acarretar um impacto negativo no mercado de trabalho e, consequentemente, na competitividade do Brasil", analisa Priscilla. O avanço também se dá às custas da desigualdade regional.

No Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o indicador de jovens que freqüentam a universidade estava na casa de 16%. Já no Nordeste e no Norte ele era respectivamente de 7,5% e de 9,0%. Também há uma forte diferença quando se leva em conta o local de habitação dos estudantes.

(Marcelo Cabral)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

País fica em 88º em ranking de ensino

20/01/2010 - O ESTADO DE S. PAULO

Estudo da Unesco, com 128 nações, mostra que Brasil está atrás de Paraguai e Argentina; qualidade é o gargalo

Lisandra Paraguassú


O alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que o Brasil conquistou há dois anos não chegou à educação. O relatório Educação para Todos, divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), mostra que a baixa qualidade do ensino nas escolas deixa as crianças para trás. É diretamente responsável por colocar o País na 88ª posição no Índice de Desenvolvimento Educacional (IDE), com resultado 0,883 (a nota varia de 0 a 1, sendo 1 a mais alta). O Brasil está atrás de Paraguai, Equador e Bolívia.

Dos quatro dados utilizados pela Unesco, o Brasil vai bem em três e tem resultados acima de 0,900 - o mínimo para ser considerado de alto desenvolvimento educacional. São bons os números de atendimento universal, analfabetismo e igualdade de acesso à escola entre meninos e meninas. Já quando se analisa o índice que calcula quantas crianças que entram na 1ª série do ENSINO FUNDAMENTAL concluem a 5ª série, o País cai para 0,756, um baixo IDE.

Mais do que isso, a situação piorou. No estudo anterior, com dados de 2005, o índice brasileiro ficou em 0,901. O recente relatório utiliza informações de 2007, ano em que há números comparáveis para os 128 países.

Segundo Nicole Bella, analista de políticas da Unesco em Paris e uma das responsáveis pelo relatório, o Brasil perdeu pontos porque a matrícula caiu de 95,6% em 2005 para 93,5% em 2007 e a taxa de sobrevivência na 5ª série de 80,5% para 75,6% no mesmo período. "A reprovação e a retenção escolar, assim como a qualidade da educação, atrapalham o progresso do País."

O gargalo da 5ª série do ENSINO FUNDAMENTAL é conhecido. O relatório aponta três fatores que influenciam o resultado das crianças e a permanência na escola: a necessidade de identificar, nos primeiros anos de escolaridade, o quanto a criança está aprendendo e tomar medidas para sanar as dificuldades; ter escolas com um mínimo de infraestrutura física e um bom ambiente escolar; um número consistente de horas em sala de aula, garantindo que pelo menos 80% delas seja de aprendizagem efetiva. Em nenhum deles o Brasil pode servir de exemplo.

Nas rede pública, a média de horas de aula por dia é de 4,5 no ENSINO FUNDAMENTAL e 4,3 no médio, quando seriam necessárias ao menos 6. Mais de 17,8 mil escolas não têm energia elétrica e só 37% possuem bibliotecas.

Para o presidente executivo do Movimento Todos pela Educação, Mozart Ramos, os dados reforçam que o maior desafio do País é a aprendizagem na educação básica. "Melhorar a qualidade é mais caro do que colocar a criança na escola." Para a educadora Ângela Soligo, da Unicamp, o País "investe demais em avaliação e de menos na melhoria da qualidade".

O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO informou que ainda vai analisar o relatório, mas, inicialmente, considerou os números "estranhos" porque houve a ampliação do ENSINO FUNDAMENTAL para nove anos e queda na evasão.

Colaborou Carlos Lordelo

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Socióloga comenta entrevista sobre situação de museus no país

Brasília -DF -15/01/2010
À situação deplorável dos museus de arte identificados geralmente com as artes pláticas (pintura, desenho, gravura, fotografia, escultura e instalções diversas), acrescenta-se os museus e acervos de ciência e tecnologia (C&T), tão importantes na escala cultural quanto os primeiros e constituindo-se em patrimônio material e imaterial de mesmo status que os patrimônios artísticos, arqueológicos, históricos e arquitetônicos. Pouquíssimas exceções se observam no Brasil representativas de extremo cuidado e preservação de equipamentos e produções tão importantes para a C&T brasileiras, podendo ser citados o Mast no RJ, o Museu da Vida no RJ, o Emílio Goeldi no PA, todos públicos e outros poucos espalhados pelo Brasil afora. O Centro de Memória do CNPq em Brasília acaba de ser desativado! Terminando, todos são parte integrante do nosso patrimônio cultural, das nossas memórias e identidades, e desempenham junto à população importante papel educativo e construtor de cidadania.

Elisabete Ferreira
socióloga
secretária executiva do InTC - Instituto Transposição do Conhecimento para o Desenvolvimento Regional

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Situação de museus de arte no país é deplorável

Folha de s. Paulo
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

ENTREVISTA PAULO SERGIO DUARTE

Para crítico e curador, políticas do Estado brasileiro "refletem estatuto da arte na consciência da elite, que é inexistente"

CRÍTICO, CURADOR e professor de história da arte, Paulo Sergio Duarte cita o abandono do Museu de Brasília como exemplo da indigência das políticas públicas em relação ao setor e diz que o Instituto Brasileiro de Museus é só "um escritório com diretoria e alguns assessores". Ele vê os museus como "instrumentos indispensáveis para qualquer sistema educacional que se preze" e advoga interação entre essas instituições e universidades.

MARCOS AUGUSTO GONÇALVESDA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisador do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Candido Mendes, no Rio, Duarte, foi curador da 5ª Bienal do Mercosul (2005) e do Projeto Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural, no ano passado. Ele cobra do governo Lula a definição de prioridades e defende que os museus federais sejam centros de excelência e formação técnica. Quanto às mudanças na Lei Rouanet, propõe tratamento especial para investimentos em aquisição de acervos e infraestrutura de museus -hoje preteridos em favor do patrocínio de exposições temporárias.

FOLHA - Qual é a situação da rede de museus do país?

PAULO SÉRGIO DUARTE - É preciso lembrar logo que só vamos falar de museu de arte, a cultura em tão elevado estado de condensação que nós não chamamos de cultura, mas de arte. No caso desses museus, a situação é deplorável. Existem ilhas razoáveis que estão longe de dar um bom panorama histórico da arte no país.

FOLHA - Qual é a responsabilidade do governo nessa situação?

DUARTE - Não é um problema só de governo, este ou passados. A política cultural do Estado reflete o estatuto da arte na consciência da elite brasileira. E esse lugar simplesmente não existe, com raríssimas exceções. Repetindo o que digo há 30 anos: percorrendo, em qualquer uma das duas maiores cidades do país, todos os seus museus, é impossível para um professor dar um curso digno da história da arte do século 20.Tenho insistido sobre o fato de que neste ano Brasília completa 50 anos. Onde está seu museu de arte? No antigo Clube das Forças Armadas, depois cedido para o Casarão do Samba, e posteriormente transformado no museu de arte. Está lá num prédio interditado, cercado por hotéis de arquitetura pífia. Até aqui, este é o lugar do museu na capital da nação. Eu defendo que se faça um concurso internacional para este museu, como foi feito no Rio para o Museu da Imagem e do Som.

FOLHA - Isso é simbólico quanto à importância que o poder público confere à arte?

DUARTE - Isto não acontece por mero acaso no país no qual sobra dinheiro para malas em automóveis e aviões de pastores evangélicos, fraldas de dólares debaixo das calças de cabos eleitorais e até nas meias de deputados. Qual pode ser o estatuto da arte nesse lugar? Como acreditar que a arte é um conhecimento específico, muito importante para compensar os efeitos da indústria cultural, e formar um olhar crítico no cidadão se, na capital do país, é tratada de modo tão lamentável?

FOLHA - Como você vê a atuação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), criado pelo governo?

DUARTE - Por enquanto, é um escritório com uma diretoria e alguns assessores.

FOLHA - Como ele deveria se estruturar?

DUARTE - Os museus são, antes de tudo, equipamentos necessários à formação de cidadania e um instrumento indispensável de qualquer sistema educacional que se preze. Com as tarefas enormes e com o alarme de emergências tocando todo dia, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, não pode dar a devida prioridade aos museus.Parodiando Carl von Clausewitz, na sua frase que já se tornou clichê: os museus são importantes demais para ficar nas mãos de museólogos. Os acordos e convênios com universidades e institutos de ensino e pesquisa nas diversas regiões do país poupariam da inchação o quadro de pessoal do Ibram.Acredito que, para o primeiro mandato do presidente Lula, estava correta a política do Ministério da Cultura de prospecção do campo realizada pelas consultas a câmaras setoriais, reuniões e estímulos à participação. Mas já é tempo de ter focos precisos, prioridades de efeitos multiplicadores. Acima de tudo, as instituições federais têm de ser centros de excelência e de formação técnica.

FOLHA - Que prioridades?

DUARTE - Por exemplo, os projetos educativos dos museus devem priorizar a formação de professores e secundariamente se voltar para o cidadão comum. As visitas de turmas de alunos de escolas e colégios devem estar sempre programadas como trabalhos práticos de professores preparados pelos próprios museus em programas de convênios com as secretarias de educação. Os programas educativos para professores devem estar voltados para os docentes de todas as áreas, e não apenas para aqueles de arte e educação artística. Só desse modo fará sentido a divulgação dos números de visitação de alunos; por enquanto servem para a satisfação demagógica e a prestação de contas a departamentos de marketing de patrocinadores.

FOLHA - Em relação a museus, o que deveria mudar na Lei Rouanet?

DUARTE - Eu considero que deveria haver mais estímulo fiscal aos investimentos em infraestrutura dos museus e aquisição de acervos do que para exposições temporárias. Não se trata de acabar com o estímulo às exposições e sua documentação em catálogos. Mas a aquisição de obras e publicações que exigem longas pesquisas e não estão vinculadas a um evento temporário mereceriam receber tratamento diferenciado. O mais grave, segundo li na Folha [Ilustrada, 24/11/09], é o governo querer disciplinar ou mesmo proibir a remuneração dos profissionais contratados para dirigir museus ou instituições culturais que adquiriram um estatuto autônomo, como organizações sociais. É um estímulo ao pior amadorismo ou a uma péssima elitização das direções das instituições: só ricos, pessoas que não vivem do que fazem, poderão ocupar essa direção, ou funcionários mal remunerados.

FOLHA - Que lições devemos tirar do incêndio que destruiu parte importante da obra de Hélio Oiticica?

DUARTE - A primeira lição é que não se deve nunca dispensar uma consultoria de risco indicada por uma boa empresa de seguros para qualquer edificação que for armazenar acervos preciosos. Mais do que isso: uma das cláusulas ao uso das leis de incentivo à cultura para instituições que preservam acervos seria a realização prévia da consultoria e o financiamento, pela própria lei de incentivo, da execução de todas as medidas técnicas que sejam recomendadas.Acho que quem primeiro deveria dar esse exemplo é o próprio Ministério da Cultura, realizar essa consultoria em cada uma das instituições sob sua responsabilidade. A verdade é que em muitos casos nem as normas estabelecidas pelos Bombeiros são cumpridas.

FOLHA - Se compararmos arte contemporânea, mercado e instituições do Brasil com arte contemporânea, mercado e instituições de países mais avançados, quais são os principais descompassos?

DUARTE - Temos atualmente uma excelente produção de arte, reconhecida, antes de tudo, por importantes instituições e coleções estrangeiras. Nossas instituições apresentam os mesmos descompassos que existem para outras áreas, a começar pelo sistema educacional: quais são os descompassos que existem entre os sistemas educacionais brasileiro, japonês, alemão, americano, francês e inglês, por exemplo?Nossas instituições de arte estão para as instituições desses países assim como [estão] nossa educação e nossos serviços de saúde. Quanto ao mercado, me parece que amadureceu muito, nos últimos 20 anos, em São Paulo; se estrutura no Rio e em Belo Horizonte, mas depende exclusivamente de colecionadores particulares. As instituições públicas não têm recursos regulares para aquisições.

FOLHA - E as doações?

DUARTE - Dou um exemplo. A diretora do Museu Nacional de Belas Artes declarou que recebeu em poucos anos milhares de doações. O número publicado chegava a dezenas de milhares, embora isso possa ter sido um erro tipográfico. Mas, se é verdade, é evidente prova do elevado grau de indigência que conduz a política cultural de artes visuais. Integrar o acervo do Museu Nacional de Belas Artes deve ser privilégio reservado às obras de artistas que constituem um patrimônio do povo brasileiro e cuja fruição vai efetivamente formar o olhar do cidadão no campo da arte.Visite-se a sala de arte moderna e contemporânea do museu e ver-se-á que, além das inúmeras lacunas, existe quase sempre a inversão de valores: quanto menos importante o artista mais espaço ocupa sua obra. É uma aula completa do que não deve ser feito.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Pobreza interfere no desempenho escolar

10/01/2010 CORREIO BRAZILIENSE
Rodrigo Couto

Estudo realizado pela Unifesp indica que existe relação direta entre a situação econômica do aluno e o aprendizado nos colégios. Doação de livros didáticos é citada como solução
São Luiz do Norte (GO) - Quanto maior a porcentagem de indivíduos pobres em um município, pior é o desempenho escolar. É o que constatou uma pesquisa da UNIVERSIDADE Federal de São Paulo (Unifesp). A situação econômica determinou em até 58% o rendimento dos alunos das escolas municipais, enquanto nos estabelecimentos estaduais o mesmo percentual ficou em 44%. Para reverter o cenário, a coordenadora do levantamento, Christina Andrews, recomenda a continuidade do Plano Nacional de Formação de Professores, do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC), e a criação de medidas de impacto, como a entrega dos livros didáticos aos estudantes de baixa renda.

"Em vez de devolvê-los à instituição ao fim de cada período letivo, como acontece atualmente, seria positivo permitir que esses jovens ficassem com seus livros. É importante que eles possam consultá-los em casa sempre que tiverem alguma dúvida", defende a pesquisadora.
Especialistas consultados pelo Correio concordam com a sugestão da responsável pelo estudo. Doutora em educação pela UNIVERSIDADE Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Abádia da Silva, que atualmente leciona na UNIVERSIDADE de Brasília (UnB), diz que o livro pertence ao aluno. "Sempre defendi que as coletâneas deveriam ser de propriedade dos estudantes. É fundamental que os jovens, de qualquer série, fiquem com os livros o tempo todo, inclusive fora do horário escolar", analisa. "Não basta colocar uma biblioteca dentro da escola. É preciso ir além do livro didático. O governo deve fornecer obras literárias e com outras temáticas, como música e dança, por exemplo", observa.

A possibilidade de os alunos permanecerem com os livros didáticos depende da redução de custos do mercado editorial, segundo o sociólogo e o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. "A propriedade do livro não deve se restringir aos filhos da elite e da classe média. No entanto, para reverter essa realidade, é preciso baratear o preço dos livros. O mercado brasileiro é um dos mais caros", lembra. "Ao contrário de outros países, como a Inglaterra, as coletâneas no Brasil são muito sofisticadas. É possível fazer um bom material e com valor reduzido", frisa.

Procurada pela reportagem, a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, não foi localizada para comentar as sugestões do estudo.
O levantamento da Unifesp também revelou que, apesar do baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), 35 municípios apresentaram notas acima da média nacional (3,9) no Índide de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Aulas
Em São Luiz do Norte (GO), um dos municípios destaques na pesquisa, que apresentou nota 6 no Ideb, a pequena Maria Isabella da Silva, 8 anos, futura estudante da 4ª série do ENSINO FUNDAMENTAL, comemora boas notas, mas lamenta o fato de não ter dinheiro para comprar livros. "Se eu pudesse ficar com os cadernos da escola seria muito bom." A mãe, Luciete Forte da Silva, 33, diz que a garota ficou aflita por não ter atingido a pontuação máxima em todas as disciplinas. "Em português e matemática fiquei com 9,5. Gostaria de ter tirado era 10", diz Maria Isabella. Ela e a irmã, Maria Eudina, outra craque das notas altas, são sustentadas pelo salário mínimo que Luciete recebe.

Christina atribui o maior impacto da pobreza no rendimento escolar dos alunos das instituições municipais ao fato de que a expansão do ENSINO FUNDAMENTAL ocorreu principalmente nesses estabelecimentos. "Com o crescimento no número de estudantes, as escolas municipais passaram a ter uma proporção maior de jovens pobres do que as escolas estaduais", diz.

Noite do pijama
Secretária de Educação de São Luiz do Norte (GO), Cleide Maria da Silva não soube apontar as causas para o bom desempenho da cidade no Ideb, mas dá pistas para o interesse dos alunos. Entre os projetos desenvolvidos a cada mês nas cinco escolas municipais para incentivar os estudantes, ela cita a 1ª Noite do pijama, quando 81 alunos da 1ª a 4ª série do ENSINO FUNDAMENTAL (faixa etária de 7 a 10 anos) passaram uma noite dentro da escola declamando poesias e ouvindo músicas. Vestidos de pijamas, alunos e professores lancharam e dormiram na escola.

"Foi um sucesso. Eles já estão cobrando a realização de uma outra edição neste ano", conta Cleide. "Também temos o programa de ensino e aprendizagem, que oferece aulas de reforço duas vezes por semana aos alunos com dificuldade", acrescenta. Para evitar que as crianças residentes em pequenos povoados próximos ao município fiquem sem estudar, a prefeitura e o governo estadual implantaram a chamada escola ativa. "Na verdade, é uma turma de 15 alunos do 1º ao 5º do ENSINO FUNDAMENTAL que estuda junto, numa mesma sala. Como seria inviável formar turmas de dois estudantes, decidimos copiar um modelo que já é adotado pelos índios", explica. A cidade ainda realizou a semana da alimentação e um projeto sobre a Páscoa. (RC)

Pesquisadora comenta artigo "Universidade do século 21", de Adalberto Fazzio e Sidney Jard da Silva

JC e-mail 3925, de 08 de Janeiro de 2010


Leia a mensagem de Luzia Ilza Ferreira Jorge, pesquisadora do Instituto Adolfo Lutz, de Santos, SP:


"O problema do distanciamento entre universidade e exigências práticas da sociedade parece ser insolúvel, mas não é. Se houvesse maior intercâmbio entre as universidades públicas e os institutos de pesquisa o entrave seria removido, beneficiando não somente os cientistas desses dois segmentos mas também, e principalmente, a própria sociedade.

Trocando em miúdos: a universidade é teórica, os institutos são práticos. Nos poucos e expressivos momentos em que os pesquisadores de uns e de outros se reúnem para desenvolver projetos comuns, importantes avanços científicos são atingidos, vide os trabalhos produzidos em parcerias entre a Unicamp e o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) ou o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), entre a USP e o Instituto Adolfo Lutz (IAL) etc.

Sou a favor da criação de um tipo de sistema de "vasos comunicantes" entre universidades públicas e institutos de pesquisa, interligando ambas as instituições como se fossem extensões umas das outras. Desta forma seriam possíveis transferências de pesquisadores de universidades para institutos de pesquisa e vice-versa, maior incentivo ao desenvolvimento de projetos conjuntos, comunicação em rede on-line, promoção de eventos científicos conjuntos etc.

Todos ganhariam com essa troca de conhecimentos e de experiências, beneficiando-se reciprocamente, criando alternativas de trabalho e de relacionamento humano, renovando motivações, ampliando linhas de pesquisa e descobrindo novos interesses oriundos das interfaces criadas. A sociedade seria a maior beneficiada com esse incremento na qualidade e na diversidade da produção científica. E o mesmo se pode dizer dos alunos dessas universidades e dos funcionários e estagiários desses institutos de pesquisa."

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A engenharia e a competitividade do Brasil

08/01/2010 - Folha de S. Paulo

Para vencer o grande desafio de formar engenheiros, um conjunto complexo de tarefas e atores deve estar articulado

Com o crescimento e o desenvolvimento do Brasil, que aumenta sua inserção internacional entre as potências emergentes, a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação -e, em particular, a capacidade de fazer engenharia- tornam-se ferramentas estratégicas.
Sendo assim, o deficit na formação de recursos humanos na área de engenharia tem preocupado. Essa defasagem se apresenta com o crescimento do PIB, com o necessário aumento da infraestrutura e com os avanços da indústria. Logo, é uma questão estratégica. Para aumentar o número de engenheiros no Brasil, é preciso intensificar as ações dos governos, das universidades, do setor produtivo e do Congresso.
Nesse contexto, há que considerar a complexidade da formação de recursos humanos, algo muito diferente da produção de bens materiais. É um processo de longo prazo, custoso, que se inicia na educação fundamental e não pode ser interrompido.
Cientes dessa preocupação, desde 2003 as universidades federais iniciaram o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que contempla a criação de novas universidades e novos cursos (com ênfase nos noturnos) e novos campi (notadamente no interior do país). As vagas nos cursos de engenharia devem dobrar, saindo de 12 mil em 2006 para 24 mil em 2010.
Essa é a contribuição mais direta das universidades na formação de engenheiros. Porém, elas reconhecem que é preciso acelerar tal empreitada, não só em termos quantitativos mas também qualitativos. Mais que de engenheiros que operem complexos equipamentos importados, precisamos de profissionais que desenvolvam tecnologia brasileira.
Nos últimos meses, a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de ENSINO SUPERIOR) também tem dialogado com o Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) e a Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia).
Para essa missão, existem dois gargalos: um antes da graduação e outro depois. Primeiro, a necessidade de formar mais alunos no ENSINO MÉDIO -potenciais engenheiros-, o que leva a uma maior demanda de professores para a educação básica. O desfalque, notadamente nas ciências exatas, já está sendo tratado pelas universidades federais, que se empenham em projetos de formação e qualificação de docentes.
Porém, mesmo que sanado esse problema, o deficit de engenheiros não seria resolvido apenas com o esforço das universidades federais. A participação do setor privado também é necessária, desde que garantida a qualidade. Nesse ponto surge a segunda dificuldade, que é a qualificação daqueles que serão professores na educação privada. Para solucioná-la, o setor público tem outro papel fundamental, destacando-se a importância da pós-graduação.
Uma das principais pautas da Andifes, o Programa de Apoio à Pós-Graduação das Ifes (PAPG-Ifes), apresentado no ano passado ao presidente Lula, à ministra Dilma Rousseff, ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, ao Ministério da Ciência e Tecnologia, à CNI e ao MEC, torna-se estratégico nesse contexto. O PAPG-Ifes projeta um crescimento de 143 cursos de mestrado em engenharia para 216, e de 79 cursos de doutorado na área para 131.
A relação com o setor produtivo, aperfeiçoando e modernizando engenheiros já formados, é atividade rotineira das Ifes. Toda essa interação visa coordenar a formação de engenheiros com as demandas do setor produtivo, com a política industrial, com o PAC da ciência e tecnologia e com as potencialidades das universidades federais. Nesse esforço, procurou-se também superar as assimetrias regionais.
Percebe-se, então, que, para vencer o grande desafio de formar engenheiros, um conjunto complexo de tarefas e atores deve estar articulado.
Podemos afirmar que, até este momento, não tem faltado apoio dos governos e de todos os partidos no Congresso, inclusive na criação de cargos para a ampliação das universidades.
No entanto, é preciso pisar no acelerador e combinar a ação direta na formação com a interação plena com a educação básica, a formação de mestres e doutores e as demandas do setor produtivo. O futuro já chegou e não aguardará os retardatários. Em 2010, resta saber o que pensam os candidatos a presidente sobre o tema.
As universidades federais, como órgãos de Estado, estão engajadas nesse processo e na parceria com os atores envolvidos.

ALAN BARBIERO , engenheiro agrônomo, é presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de ENSINO SUPERIOR).

FLÁVIO ANTÔNIO DOS SANTOS , engenheiro elétrico, é vice-presidente da Andifes.
GUSTAVO BALDUINO , engenheiro MECânico, é secretário-executivo da Andifes.

Mais sobre "Universidade do século 21"

OPINIÃO
08/01/2010 Folha de S. Paulo

"No artigo "UNIVERSIDADE do século 21" (6/1), os professores Adalberto Fazzio e Sidney Jard da Silva abordaram com propriedade o dilema existente nas universidades públicas referente ao tripé ensino-pesquisa-extensão.
Atualmente, as diversas avaliações a que são submetidas essas universidades têm como ponto mais importante a pesquisa (ligada à pós-graduação), com pouca valorização do ensino de graduação e da extensão. Isso também se vê quanto aos requisitos para ascensão nos planos de carreira do docente.
Como o professor Peter Schulz comentou ontem nesta seção, é salutar uma revisão no status desse tripé que norteia a ação das universidades públicas paulistas. Faz-se necessária uma maior valorização do ensino, principalmente de graduação, e da extensão.
E os resultados obtidos nas diversas pesquisas devem ter como aplicação a própria extensão, com o retorno para a sociedade de todo o investimento realizado."

PAULO JOSÉ FORTES VILLAS BOAS e ADRIANA POLACHINI DO VALLE , docentes do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu-Unesp (Botucatu, SP)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Opinião sobre artigo Universidade do Século 21


07/01/2010 - Folha de S. Paulo

"Muito oportuno o texto dos professores Adalberto Fazzio e Sidney Jard da Silva ("UNIVERSIDADE do século 21", "Tendências/Debates", ontem). Propor uma revisão do status do tripé "pesquisa-ensino-extensão" das universidades brasileiras é atitude extremamente bem-vinda. A ideia de uma extensão inovadora pode propiciar um viés colaborativo entre essas três missões, que muitas vezes vivem um conflito velado e dispersivo. Aliar essa extensão à difusão do conhecimento, envolvendo vários públicos, é cada vez mais relevante no atual contexto, que precisa de engajamento público em ciência e em tecnologia e se defronta com desafios cada vez mais interdisciplinares."

PETER SCHULZ, Instituto de Física da Unicamp (Campinas, SP)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Universidade do século 21

Ganha força a ideia de extensão inovadora, prática capaz de levar à sociedade os conhecimentos produzidos na universidade

Tendências/Debates - Folha de S. Paulo - 06/01/2010

No início do século passado, o renomado sociólogo alemão Max Weber observou que somente por acaso se poderia encontrar em um mesmo homem as vocações de cientista e professor. Apenas em situações fortuitas teríamos a felicidade de entrarmos em uma sala de aula e depararmos com o acadêmico igualmente "vocacionado" para o ensino e para a pesquisa.

O dilema weberiano ainda angustia aspirantes e mestres de diversas áreas do conhecimento. De um lado, estudantes decepcionados por não compreenderem o brilhantismo dos seus professores-pesquisadores. De outro, pesquisadores-professores amargurados por não conseguirem transmitir seus conhecimentos para diligentes alunos.

Se já era difícil conciliar ensino e pesquisa, o que dizer da combinação entre ensino, pesquisa e extensão? As atividades extensionistas exigem dos docentes universitários uma vocação pouco desenvolvida no meio acadêmico: a de colocar em prática as investigações teóricas e os achados das pesquisas.

Se considerarmos ainda o desigual reconhecimento atribuído às atividades universitárias -a publicação dos resultados de pesquisa confere mais status do que a dedicação à sala de aula ou a projetos de extensão-, é compreensível a predileção pelos laboratórios entre os jovens postulantes aos mais prestigiosos títulos acadêmicos.

Contudo, cada vez mais a sociedade contemporânea reclama um papel engajado das instituições de ENSINO SUPERIOR, em particular das universidades públicas, das quais se exigem retornos não só na forma de publicações internacionais mas também em produtos e processos aplicáveis ao desenvolvimento econômico e social.

Nesse contexto, ganha força o conceito de extensão inovadora, isto é, a prática extensionista capaz de levar à sociedade os conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos no intramuros universitário.

Mas, para tanto, é necessário um duplo movimento: 1) de um lado, as universidades devem promover o reconhecimento mais equitativo das práticas de ensino, pesquisa e extensão; 2) de outro, as práticas extensionistas devem eleger a difusão do conhecimento científico e tecnológico como atividade prioritária.

O conceito de extensão inovadora implica a superação da ideia da prática extensionista como consultoria empresarial ou assistencialismo comunitário. Não se trata apenas de atender demandas de setores sociais específicos, mas de levar o conhecimento científico e tecnológico à sociedade como um todo. A extensão deve constituir o núcleo promotor daquilo que os cientistas sociais chamam de "meios de inovação", isto é, um conjunto específico de relações com foco na produção de novos conhecimentos, novos produtos e novos processos. O lócus da sinergia entre os atores acadêmicos, o poder público e o setor produtivo.

O velho modelo humboldtiano (ensino e pesquisa) é condição necessária, mas não suficiente para a UNIVERSIDADE contemporânea. A superação desse paradigma, por sua vez, é condição imprescindível para a prática da extensão inovadora. Não se trata de minimizar a importância da fórmula ensino-pesquisa, mas de maximizar o alcance dos seus resultados para além dos campi universitários.

A UNIVERSIDADE Federal do ABC (UFABC), na região metropolitana de São Paulo, tem realizado um grande esforço no sentido de desenvolver uma nova concepção de extensão universitária, tão inovadora quanto o seu projeto político pedagógico.

Para tanto, a UFABC tem participado de iniciativas importantes para o desenvolvimento econômico e social do ABC paulista, como são os casos do Grupo de Trabalho do Polo Tecnológico do Grande ABC e do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Município de São Bernardo do Campo.

Só assim essa jovem UNIVERSIDADE poderá cumprir o seu papel científico e tecnológico de forma plena. Será na relação profícua com os atores sociais inovadores (representantes do poder público, dos empresários e dos trabalhadores) que a UNIVERSIDADE do século 21 encontrará a base social para superar os dilemas vividos pelas universidades do século 20.

* ADALBERTO FAZZIO, 59, é reitor ("pro tempore") da UFABC (UNIVERSIDADE Federal do ABC), membro da Academia Brasileira de Ciências e professor titular do Instituto de Física da USP.

* SIDNEY JARD DA SILVA, 38, é chefe de gabinete da reitoria e professor adjunto do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da UFABC.

Jovens cearenses tomam conta do ITA

06/01/2010

Virou tradição: os jovens cearenses continuam sendo maioria no disputadíssimo concurso de admissão do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, de São José dos Campos (SP). No seu último concurso vestibular, realizado em dezembro passado, foram 30 os alunos cearenses – todos de escolas de Fortaleza – aprovados. Número maior do que o de candidatos paulistas.

Egídio Serpa - Diário do Nordeste