quarta-feira, 24 de junho de 2009

Brasil será veículo lançador de foguete ucraniano

15/05/2009

O Programa Espacial Brasileiro, iniciado em 1961, com a criação da Missão Espacial Brasileira (MEB), sucedida pela Missão Espacial Completa Brasileira (MECB) em 1980, seguindo-se a implantação do Centro Espacial de Lançamentos de Alcântara, em 1983, está longe de cumprir sua missão. A falta de investimentos contrasta com o crescimento do setor que movimenta mundialmente mais de 20 bilhões de dólares e onde o Brasil desfruta de significativa vantagem geográfica.

O Ministério da Aeronáutica, através do Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, executou o projeto de elaboração do Veículo Lançador de Satélites (VLS), sob o comando do Estado Maior da Forças Armadas (EMFA). Por ser considerado um grande desafio, a missão não se restringiu ao Ministério da Aeronáutica e contou com o apoio do Ministério da Marinha e do Exército.

O satélite deveria ser elaborado e testado no Brasil, sob a coordenação do CNPq, pois ainda não havia Ministério da Ciência e Tecnologia. As atividades do EMFA, introduzidas na Comissão Brasileira de Atividades Espaciais, era presidida pelo Brigadeiro Valdir Vasconcelos, que seguindo o cronograma, enquanto o CTA deveria desenvolver o VLS, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) deveria desenvolver o satélite.

Atendendo as exigências da comunidade científica internacional foi criada em 10 de fevereiro de 1994, pela Lei Nº 8.854, a Agência Espacial Brasileira (AEB) – autarquia federal de natureza civil, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que nasceu com o objetivo de promover o desenvolvimento das atividades espaciais brasileiras de forma descentralizada.

O desafio do Programa Espacial Brasileiro, além de capacitar pessoas, era ter um laboratório de integração e testes para que o satélite projetado pelo INPE tivesse onde ser testado, antes de ser lançado ao espaço. Os avanços na década de 80 não foram repetidos na década de 90 e as primeiras duas tentativas de lançar um VLS (1997 e 1999) fracassaram.

A Missão Espacial Completa previa que até o final do século, o Brasil já teria capacidade para produzir e lançar seus próprios foguetes. Em 2003, o terceiro protótipo do VLS, foguete brasileiro que deveria ser lançado na base de Alcântara, no Maranhão, foi destruído em um acidente no centro de lançamento, causando a morte de 21 técnicos. Hoje o programa sofre sérios problemas devido a falta de recursos, demarcações de terras quilombolas, cortes no orçamento e ação de ONGs.

Diante da sucessão de fracassos surge uma luz no fim do túnel. A criação da empresa binacional Brasil-Ucrânia, chamada Alcântara Cyclone Space (ACS), cujo objetivo é lançar foguetes Cyclone-4, com fins comerciais, para colocar satélites em órbita terrestre, em princípio a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).

A Ucrânia comprometeu-se com o desenvolvimento do Cyclone IV, desenvolvido por aquele país e parte integrante de uma geração de foguetes que já passaram por mais de 200 lançamentos. Já o Brasil participa com a infra-estrutura, devendo realizar mais de 100 obras na base de Alcântara. O primeiro lançamento está previsto para julho de 2010 e deverá abrir as portas brasileiras para a exploração comercial das atividades espaciais.

Em palestra no Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica (CAEAT), da Câmara dos Deputados, no dia 29 de abril, o atual presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem, ressaltou a importância do Programa Espacial Brasileiro, mas reconheceu que o tema foi tratado de maneira totalmente desmerecedora, tendo em vista a influência que deveria ter exercido .
“Nós somos exportadores de toneladas de commodities que valem centavos de dólares, enquanto no mercado satelital para cada dólar investido, nós temos quatrocentas mil vezes mais retorno provado e justificável. A atividade quilo/dólar de valor agregado na indústria de satélite mundial é de cinqüenta mil dólares, esse é um assunto para gigantes, para países que não temem a política da competitividade, no âmbito da sociedade do conhecimento. Somos um conjunto de etnias perplexas, cujos assuntos ligados ao espaço ainda é tratado como objeto de curiosidade jornalística, como uma façanha tecnológica que não se sustenta frente a um debate nacional”, afirmou Ganem.

O Programa Espacial Brasileiro é vital no desenvolvimento tecnológico, econômico e social do país. A falta de continuidade é o maior problema enfrentado pelo setor, que sofre por mudanças a cada governo com perdas de oportunidades, consideradas antes prioritárias e que, de uma hora para outra, por conta de recursos cada vez menores, são deixadas de lado.

Não conseguimos decolar sozinhos, é fato, mas o Brasil ostenta posição privilegiada na linha do equador e não podemos esquecer que a rede nacional de pesquisas poderá nos configurar uma vantagem, que já abrimos mão no passado. Todo o dinheiro jogado fora até agora é muito pouco se considerarmos o prejuízo que esse atraso tecnológico traz para o país.

por Lynaldo Cavalcanti
publicado no site http://www.wscom.com.br em 15/05/2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

Por que fracassa um APL


18/04/2009

Atualmente existem no Brasil mais de 300 experiências de promoção e desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs). A grande maioria dessas experiências vem sendo coordenada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e por federações empresariais. Mas, infelizmente, muitas delas, tal como concebidas, tendem a fracassar no médio prazo.

Um Arranjo Produtivo Local se define como um grupo de empresas altamente concentradas do ponto de vista geográfico, que trabalham direta ou indiretamente para o mesmo mercado final, com grau diferenciado de coesão e características comuns.

Nos últimos dez anos, as experiências se espalharam por todas as unidades da Federação, induzidas por uma política nacional (ou estadual) específica ou até mesmo por um certo modismo entre os formuladores de planos de desenvolvimento local ou microrregional. Mas, desde a concepção de distritos industriais proposta por Alfred Marshall no início do século passado, até as bem-sucedidas experiências dos distritos industriais da "Terceira Itália" no pós 2ª Guerra Mundial, não há como negar as potenciais vantagens competitivas das empresas protagonistas de um APL.

Michael Porter sinaliza, entre essas vantagens: maior eficiência na contratação da mão de obra e relação com fornecedores; acesso a informações especializadas; externalidades positivas; acesso a instituições e bens públicos; melhor motivação e avaliação do desempenho; estímulos à inovação etc. Cada uma dessas vantagens competitivas se destaca de acordo com o nível de organização e de desenvolvimento do APL, o qual pode variar das aglomerações produtivas de subsistência até as aglomerações produtivas de base tecnológica. A busca da melhoria de competitividade sistêmica dessas aglomerações tem estimulado a organização de novos APLs no País. Neste mês, por exemplo, o Sebrae de São Paulo está licitando trabalhos de consultoria para a estruturação de 15 novos APLs localizados em dezenas de municípios do estado.

Há diversos argumentos para prever o declínio de muitas experiências de APL em andamento no Brasil. Um APL tem como fundamento conceitual o modelo de concorrência com competição, em que se procura resolver problemas comuns a grupos de micro e pequenos produtores que isoladamente não teriam como resolvê-los. A principal fonte de competitividade são os elementos de confiança, de solidariedade e de cooperação entre as empresas, um resultado de relações muito estreitas de natureza econômica, social e comunitária. Como muitos APLs são construções artificiais arquitetadas pelas burocracias públicas e privadas ou pelo oportunismo empresarial para ter acesso aos novos mecanismos específicos de financiamento e de assistência técnica, fica claro que tende a ser curto o horizonte da sua sustentabilidade institucional.

Destaca-se, também, a absoluta ausência de uma Rede de Precedência na formulação de um projeto de APL, em quase todas as experiências em fase de execução no Brasil. Sem considerar a interdependência entre o sequenciamento, o ritmo e a intensidade das ações programadas que compõem a sua Rede de Precedência, corre-se o risco de se tratar o plano de ação como uma lista de benefícios que vai sendo percorrida indiscriminadamente, pressupondo-se que, se tudo que foi proposto é bom para os protagonistas do APL, se pode fazer o que for possível em qualquer cadência ou sequenciamento comandados por fatores aleatórios. Os resultados desses procedimentos normalmente podem ser inesperados, contraditórios e inconsistentes com o escopo e os objetivos do plano de ação do APL.

Enfim, um Arranjo Produtivo Local pode ser considerado adequadamente estruturado quando dispuser das seguintes características: um plano de ação plurianual; uma estratégia competitiva consensualizada; um ambiente entre seus participantes de cooperar e interagir para competir; um modelo de governança com gestão participativa e compartilhada; e um sistema de controle e avaliação com indicadores de processo e indicadores de resultados ou finalísticos. Esses procedimentos podem dar certa garantia de que as atividades e ações programadas não se transformem num exercício de voluntarismo tecnocrático, numa experiência fortuita de projetos de vitrine ou numa mobilização de esperanças comunitárias desencontradas e dispersas quanto aos seus objetivos de médio e de longo prazos.

por Paulo Roberto Haddad (economista, foi ministro da Fazenda)
Fonte: O Estado de S. Paulo - 18/04/2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cai taxa de formação de doutores no Brasil

08 de junho de 2009

A letra do zoólogo Paulo Vanzolini ilustra bem a situação do sistema de pós-graduação nacional: "De um lado tem maré alta, do outro praia de fora."

O país rompeu a barreira simbólica da formação de 10 mil doutores em 2008. Segundo número ainda não divulgado pelo governo, 10.711 receberam o título. Porém, a taxa de aumento de titulados, que era de 15% em média ao ano no início da década, caiu para 6% de 2004 em diante --com uma tendência de alta no último ano.

Dados mostram que a carência do setor acadêmico no Brasil continua enorme. De todas as instituições de ensino superior do país, entre particulares e públicas, só 24% dos professores são doutores.

E há três anos, pelo menos, a taxa relativa mostra que o Brasil ainda está longe de alcançar o número de formação dos americanos. O resultado da divisão do número de titulados nos EUA pela quantidade anual de doutores brasileiros --um dos indicadores mais usados pelos estudiosos-- está estagnado em 21%.

"É bastante preocupante", afirma Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP). O fato de o intervalo entre os dois países não diminuir, para o pesquisador e dirigente científico, impede que o Brasil se aproxime das estatísticas de países mais desenvolvidos.






Apesar de considerar que as taxas de formação de doutores, mesmo em queda, estão altas, Eduardo Viotti, economista especialista em política científica, concorda que o número de professores universitários que possuem título de doutorado ainda é muito reduzido e precisa ser elevado. Ele é um dos autores de um estudo sobre ensino superior publicado pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) em 2008.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, vê o quadro com mais naturalidade e com menos preocupação. "Não é possível que um sistema de pós-graduação cresça tanto por um tempo muito longo", disse ele à Folha.

O Plano Nacional de Pós-Graduação do Brasil prevê para o fim do próximo ano a cifra de 16 mil doutores em um ano --número que dificilmente será atingido. Mas o titular do MCT sabe onde está um dos gargalos: a inovação brasileira, no setor privado, ainda não ocorre na velocidade desejada.

Federais
Mesmo com as particulares fora da conta, o número de doutores entre os professores do terceiro grau é baixo. Quando são analisadas apenas as universidades federais, por exemplo, a cifra é de 50%.

Das 55 universidades federais que o Brasil tem hoje, 9 (16,3%) não poderiam ter mais esse nome se a discussão da reforma universitária, estagnada no Congresso há anos, já tivesse sido encerrada. Pelo Projeto de Lei, cada instituição deve ter pelo menos 25% de doutores no quadro de docentes para ser denominada "universidade".

Em São Paulo, onde existem ilhas de excelência, a taxa média nas três universidades estaduais é de 93%. Nos EUA, que possui universidades mais voltadas para a pesquisa e outras focadas quase exclusivamente no ensino, as mesmas taxas ficam ao redor dos 73%.

Jarbas Bonetti, professor e pesquisador na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), diz que a menor busca dos alunos por doutorado pode ter a ver com a maior dificuldade para a obtenção de bolsas e falta de perspectiva de emprego após conseguir o título.

Já Adalberto Vieyra, coordenador de área da Capes e professor da UFRJ, diz que os programas de pós-graduação cresceram em número e tamanho, especialmente a partir de 2003. "Mas o corpo de orientadores qualificados, de formação demorada e cuidadosa, cresceu de forma muito lenta, passando de 32 mil para 35 mil."

Segundo ele, o desafio não é só superar o fosso dos 0,6 doutores por 1.000 habitantes contra os 30 da Alemanha, por exemplo. "É preciso formar pessoas capazes de liderar a abordagem de complexos problemas nas fronteiras do conhecimento, no mesmo nível que nos países desenvolvidos."

Para o consultor e ex-reitor da USP, Roberto Leal Lobo e Silva Filho, é importante aumentar a incorporação de doutores tanto na iniciativa privada, para a inovação, quanto no setor acadêmico.

por EDUARDO GERAQUE
Publicado na Folha de São Paulo em 08/06/2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Pré-Sal pode tornar o Brasil 4º maior produtor de petróleo do mundo

19/06/2009

A descoberta de petróleo e gás na camada Pré-Sal da costa brasileira traz um novo horizonte para indústria petroleira mundial. Além dos desafios técnicos e institucionais da Petrobras surge a necessidade de criação de uma nova empresa estatal.

O tema discutido durante o seminário “O Brasil diante do Pré-Sal”, realizado no dia 3 de junho, na Câmara dos Deputados, acendeu o sinal de alerta para os militantes da campanha “O petróleo tem que ser nosso”. A iniciativa da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, em parceria com o Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica, levantou a necessidade de criação de um novo marco legal para colocar nas mãos do Estado a decisão sobre a aplicação da maior parte da riqueza gerada pelo petróleo extraído.

Segundo o presidente do Conselho de Altos Estudos, deputado Inocêncio Oliveira (PR/PE) estamos diante de uma oportunidade histórica. “Em vez de simplesmente transferir essa riqueza para empresas ou acionistas internacionais, os lucros gerados poderão financiar grandes investimentos em educação, saúde, pesquisa, infraestrutura, saneamento e defesa”, afirmou.
A província do Pré-Sal oferecerá desafios técnicos nunca antes visto no setor. Será necessário superar diversas barreiras técnicas em áreas que compõem, direta e indiretamente, a cadeia de valor da atividade petrolífera. Na avaliação do presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI), deputado Eduardo Gomes (PSDB/TO), as questões políticas precisam ser equacionadas uma vez que a indústria brasileira ainda não domina todos os aspectos tecnológicos envolvidos na extração do petróleo em reservatórios localizados em tão grandes profundidades e tão longe da costa.

Serão necessários altos investimentos, seja no esforço intenso para a formação e reciclagem de recursos humanos, seja na criação de novas empresas e na capacitação tecnológica. Com base em informações publicadas pela Petrobras, os desafios que se apresentam para exploração e o transporte de petróleo são essencialmente na área de reservatórios, engenharia de poços, logística associada ao gás e nas unidades de produção flutuante.

Para atender a demanda de empregos que surgirá nos próximos anos, algumas ações já começam a ser evidenciadas. O coordenador executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo (Prominp), José Renato Ferreira de Almeida, disse durante o seminário que será divulgado, na primeira semana de novembro, edital para a seleção pública de capacitação de mais 42.402 pessoas para atuarem no mercado de petróleo. A necessidade de contratação passou de 112 mil pessoas para 260 mil.

A descoberta da camada Pré-Sal deixa o Brasil numa posição privilegiada em relação ao resto do mundo e implica crescimento na área de pesquisa científica e tecnológica, que impulsionará o desenvolvimento da indústria fornecedora de equipamentos, materiais de construção naval e bases administrativas.

Os dados levantados no seminário “Os desafios do Pré-Sal” propõem uma mudança na geografia mundial e nacional da indústria do petróleo, passando o litoral paulista a ter uma importância estratégica como base de apoio para a exploração em alto-mar.

Para o secretário de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, José Lima, o tema deve ser tratado levando em consideração o contexto internacional. “É bem verdade que em função da crise houve um soluço no crescimento de demanda energética, mas no médio e longo prazo, não há dúvida que a demanda é crescente. Ninguém cresce sem energia. Ninguém desenvolve sem energia. O consumo energético é ligado diretamente ao crescimento do PIB de um país” concluiu.

O sucesso de Petrobras não veio sem muitos investimentos e esforços. As tecnologias desenvolvidas no Cenpes fazem da empresa, a que mais gera patentes no Brasil e no Exterior. Estamos certos de que a missão é árdua, entretanto plausivelmente estimulante.

por Lynaldo Cavalcanti
Publicado no site:
http://www.wscom.com.br em 19/06/2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Uma expansão menos assimétrica


24/05/2009

É preciso que o país discuta um modo social e ambientalmente responsável de ocupar nossa fronteira norte. Vazios populacionais são um chamado a problemas.

A convite do Exército, participei esta semana de visita à região de São Gabriel da Cachoeira, a capital de fato da área conhecida como Cabeça do Cachorro, no extremo noroeste do Brasil. Ali fazemos limite com a Colômbia e a Venezuela. Além de São Gabriel, pude conhecer o pelotão de São Joaquim, na fronteira colombiana, colado a áreas de ação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e, logicamente, do narcotráfico.

Apesar das sabidas dificuldades materiais das Forças Armadas, fica visível para quem lá vai a ênfase no deslocamento da ação militar brasileira estratégica rumo ao norte. Um sinal dos tempos é o movimento para a Amazônia de unidades antes sediadas no Rio de Janeiro.

Não é novidade a posição especial da Amazônia no pensamento militar brasileiro. O novo está em que as Forças Armadas transformam de fato, e aceleradamente, a preocupação em ação. Cresce o investimento nos pelotões de fronteira, ainda que dentro dos apertados limites orçamentários. Duas decisões recentes potencializaram essa orientação da caserna: o decreto presidencial 6.513, de julho passado, que determinou o reforço da presença militar nas terras indígenas, e as condições colocadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quando confirmou a demarcação contínua da terra indígena Raposa Serra do Sol.

Com a decisão do STF, o Exército viu garantida legalmente a liberdade de fazer movimentos em terras indígenas, sem o que não poderia cumprir sua missão constitucional em defesa da integridade e da soberania do país. Aliás, uma preocupação dos comandantes na Amazônia é com possíveis pressões externas e internas que tentem “relativizar” a decisão do Supremo. Considerando o estágio atual da discussão na opinião pública, é bom mesmo ficar de olho. A tentativa de demonização da presença militar brasileira na região é a outra face do entreguismo.

Infelizmente, nota-se entre nós a costura de um discurso no qual o Brasil é apontado como “pouco capaz” de cuidar da Amazônia. Em geral, o “cuidar bem” é traduzido por deixar a floresta intocada. Como se algum povo, em algum momento de sua história, tivesse conseguido progredir sem alterar em certo grau o meio ambiente. Para agravar a situação, aceita-se aqui um debate em torno da ideia de “nações” indígenas. Como se os muitos grupos originais não integrassem a nacionalidade brasileira.

Contra essas ameaças o Exército está fazendo a parte dele. Basta ir a São Gabriel da Cachoeira, lugar de grande concentração e diversidade de comunidades indígenas, e constatar que ali as Forças Armadas se estruturam com base na integração. Na tropa e fora dela. Os soldados são majoritariamente índios. E no hospital militar local (o único da área), mais de 80% da população atendida é de índios.

Mas o resto do país, será que também está fazendo a sua parte? Há dúvidas. A presença militar é um vetor importante na garantia de autoridade sobre o território. Mas soberania real só se mantém com população e desenvolvimento. O vácuo populacional é a porta de entrada para todo tipo de problema, começando pelo crime e terminando na vulnerabilidade diante da cobiça internacional. É um debate que o Brasil precisa fazer. Como ocupar o norte de modo não assimétrico. Não só com soldados, mas com povo, todo tipo de povo brasileiro.

Nas condições concretas do Século 21, isso só será possível dentro de parâmetros sociais e ambientais coletivamente aceitáveis, e seria adequado se o vetor dessa expansão fosse a agricultura familiar.

Lamentavelmente, os nossos movimentos pela reforma agrária estão presos numa armadilha, em parte por causa da aliança com o ambientalismo global. Em vez de pressionarem o governo pela distribuição e regularização de terras na Amazônia, desperdiçam tempo e energia na luta contra a grande propriedade produtiva, contra o agronegócio. Estão encalacrados num impasse, enquanto o imenso desafio nacional da expansão para o norte carece de uma força social transformadora à altura da grandiosidade da missão.

por Alon Feuerwerker
Coluna "Nas entrelinhas" publicada no Correio Braziliense em 24/05/2009.

terça-feira, 16 de junho de 2009

A Origem da Desigualdade


por José Márcio Camargo
10/06/2009

Pesquisas recentes mostram que a taxa de retorno da educação no Brasil é bastante alta, entre 11% e 15% ao ano. Ou seja, um ano adicional de estudo aumenta a renda entre 11% e 15% ao ano ao longo de toda a vida útil. A principal consequência deste fato é que o investimento em educação é a forma mais eficiente de reduzir a pobreza e a desigualdade da renda no País. Apesar disso, a sociedade brasileira parece dar muito pouco valor ao investimento em educação. Vários são os sintomas de que isto é verdade. Alguns exemplos. O governo brasileiro gasta 18 vezes mais per capita com aposentadorias e pensões do que com o ensino fundamental. Ou seja, cada idoso recebe do governo 18 vezes mais do que cada criança matriculada no ensino fundamental.

O programa Bolsa Família, cujo objetivo é induzir as famílias pobres a deixar seus filhos na escola em lugar de direcioná-los para o mercado de trabalho (pois uma criança pobre pode contribuir com até 30% da renda familiar per capita) e, desta forma, aumentar a renda destas crianças quando se tornarem adultas, tem sido tratado como um programa tradicional de transferência de renda cujo objetivo é diminuir a pobreza no presente. A pouca importância dada às condicionalidades educacionais e a busca de "portas de saída" mostram que seus admiradores e detratores não entenderam a importância da educação. Se a prioridade for melhorar a educação das crianças pobres, a única porta de saída do programa é escola em tempo integral e ensino público de qualidade.

Pesquisas científicas mostram que a capacidade de aprendizagem está em seu nível mais alto entre zero e 6 anos de idade. Segundo estas pesquisas, esta é a idade em que as pessoas aprendem a pensar. A partir desta idade se torna muito difícil ensinar a pensar. Não é por outra razão que os programas de alfabetização de adultos quase nunca são bem-sucedidos. Apesar disto, o governo brasileiro gasta 7 vezes mais per capita com educação superior do que com o ensino fundamental, ainda que somente os 20% mais ricos consigam entrar em uma universidade pública no Brasil.

Poucos políticos brasileiros tiveram ou têm como prioridade a melhoria da educação fundamental pública.

O primeiro político brasileiro de importância nacional que colocou a educação como prioridade foi o governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, que implementou o programa de educação em tempo integral nas escolas públicas, os Cieps. E a reação da sociedade não foi muito positiva. O senador Cristovam Buarque tem feito uma cruzada a favor da educação pública de qualidade, mas os resultados, em termos de opinião pública e programas de governo, têm sido medíocres.

Exemplos do descaso da sociedade brasileira em relação à educação não faltam. Discute-se muito sobre a necessidade de reduzir a desigualdade da renda no País. Mas a renda é desigualmente distribuída porque algumas pessoas têm maiores oportunidades do que outras (além de diferença de gostos e de capacidades inatas).

E a desigualdade de oportunidade depende de forma fundamental da desigualdade educacional. Se os mais ricos têm acesso a educação de melhor qualidade do que os mais pobres, é impossível reduzir a desigualdade de renda de forma sustentável. Programas tradicionais de transferência de renda conseguem fazer isto no curto prazo. Mas se a desigualdade de oportunidades educacionais continua, no longo prazo, os mais educados irão ganhar mais do que os menos educados e a desigualdade de renda volta. Esta é a origem da enorme desigualdade da sociedade brasileira.

José Márcio Camargo é professor do departamento de economia da PUC/Rio e economista da Opus Gestão de Recursos.
Fonte: Revista Isto É de sábado, 10 de junho de 2009.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ministro defende PEC que transforma o Cerrado e a Caatinga em patrimônios nacionais

09/06/2009

No dia 4, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, participou, na Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, de ato em defesa da aprovação do projeto de emenda constitucional (PEC) que transforma os biomas Cerrado e Caatinga em patrimônios nacionais. O presidente da Casa, Michel Temer, se comprometeu a colocar a matéria em pauta, no Plenário, nos próximos dez dias.A PEC modifica o parágrafo 4º, do artigo 125, da Constituição Federal, que já consagra a Amazônia, a Mata Atlântica e o Pantanal como patrimônios nacionais. Na ocasião, Minc aproveitou a reunião da Comissão do Meio Ambiente para pedir apoio dos parlamentares para a proposta de resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que determina que as usinas térmicas plantem árvores para diminuir os efeitos das suas emissões de CO2 por queima de óleo e carvão.A matéria será apreciada na próxima reunião do Conama, nos dias 22 e 23 de junho, sob forte pressão do setor, que alega que a medida irá aumentar o custo de produção desse tipo de energia.Informações sobre as ações do MMA podem ser consultadas no site http://www.mma.gov.br/. Com informações do MMA.

(Gestão C&T N° 837)
gestaoct@abipti.org.br
Jornalista Responsável: Bianca Torreão