quarta-feira, 24 de junho de 2009

Brasil será veículo lançador de foguete ucraniano

15/05/2009

O Programa Espacial Brasileiro, iniciado em 1961, com a criação da Missão Espacial Brasileira (MEB), sucedida pela Missão Espacial Completa Brasileira (MECB) em 1980, seguindo-se a implantação do Centro Espacial de Lançamentos de Alcântara, em 1983, está longe de cumprir sua missão. A falta de investimentos contrasta com o crescimento do setor que movimenta mundialmente mais de 20 bilhões de dólares e onde o Brasil desfruta de significativa vantagem geográfica.

O Ministério da Aeronáutica, através do Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, executou o projeto de elaboração do Veículo Lançador de Satélites (VLS), sob o comando do Estado Maior da Forças Armadas (EMFA). Por ser considerado um grande desafio, a missão não se restringiu ao Ministério da Aeronáutica e contou com o apoio do Ministério da Marinha e do Exército.

O satélite deveria ser elaborado e testado no Brasil, sob a coordenação do CNPq, pois ainda não havia Ministério da Ciência e Tecnologia. As atividades do EMFA, introduzidas na Comissão Brasileira de Atividades Espaciais, era presidida pelo Brigadeiro Valdir Vasconcelos, que seguindo o cronograma, enquanto o CTA deveria desenvolver o VLS, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) deveria desenvolver o satélite.

Atendendo as exigências da comunidade científica internacional foi criada em 10 de fevereiro de 1994, pela Lei Nº 8.854, a Agência Espacial Brasileira (AEB) – autarquia federal de natureza civil, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que nasceu com o objetivo de promover o desenvolvimento das atividades espaciais brasileiras de forma descentralizada.

O desafio do Programa Espacial Brasileiro, além de capacitar pessoas, era ter um laboratório de integração e testes para que o satélite projetado pelo INPE tivesse onde ser testado, antes de ser lançado ao espaço. Os avanços na década de 80 não foram repetidos na década de 90 e as primeiras duas tentativas de lançar um VLS (1997 e 1999) fracassaram.

A Missão Espacial Completa previa que até o final do século, o Brasil já teria capacidade para produzir e lançar seus próprios foguetes. Em 2003, o terceiro protótipo do VLS, foguete brasileiro que deveria ser lançado na base de Alcântara, no Maranhão, foi destruído em um acidente no centro de lançamento, causando a morte de 21 técnicos. Hoje o programa sofre sérios problemas devido a falta de recursos, demarcações de terras quilombolas, cortes no orçamento e ação de ONGs.

Diante da sucessão de fracassos surge uma luz no fim do túnel. A criação da empresa binacional Brasil-Ucrânia, chamada Alcântara Cyclone Space (ACS), cujo objetivo é lançar foguetes Cyclone-4, com fins comerciais, para colocar satélites em órbita terrestre, em princípio a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).

A Ucrânia comprometeu-se com o desenvolvimento do Cyclone IV, desenvolvido por aquele país e parte integrante de uma geração de foguetes que já passaram por mais de 200 lançamentos. Já o Brasil participa com a infra-estrutura, devendo realizar mais de 100 obras na base de Alcântara. O primeiro lançamento está previsto para julho de 2010 e deverá abrir as portas brasileiras para a exploração comercial das atividades espaciais.

Em palestra no Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica (CAEAT), da Câmara dos Deputados, no dia 29 de abril, o atual presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem, ressaltou a importância do Programa Espacial Brasileiro, mas reconheceu que o tema foi tratado de maneira totalmente desmerecedora, tendo em vista a influência que deveria ter exercido .
“Nós somos exportadores de toneladas de commodities que valem centavos de dólares, enquanto no mercado satelital para cada dólar investido, nós temos quatrocentas mil vezes mais retorno provado e justificável. A atividade quilo/dólar de valor agregado na indústria de satélite mundial é de cinqüenta mil dólares, esse é um assunto para gigantes, para países que não temem a política da competitividade, no âmbito da sociedade do conhecimento. Somos um conjunto de etnias perplexas, cujos assuntos ligados ao espaço ainda é tratado como objeto de curiosidade jornalística, como uma façanha tecnológica que não se sustenta frente a um debate nacional”, afirmou Ganem.

O Programa Espacial Brasileiro é vital no desenvolvimento tecnológico, econômico e social do país. A falta de continuidade é o maior problema enfrentado pelo setor, que sofre por mudanças a cada governo com perdas de oportunidades, consideradas antes prioritárias e que, de uma hora para outra, por conta de recursos cada vez menores, são deixadas de lado.

Não conseguimos decolar sozinhos, é fato, mas o Brasil ostenta posição privilegiada na linha do equador e não podemos esquecer que a rede nacional de pesquisas poderá nos configurar uma vantagem, que já abrimos mão no passado. Todo o dinheiro jogado fora até agora é muito pouco se considerarmos o prejuízo que esse atraso tecnológico traz para o país.

por Lynaldo Cavalcanti
publicado no site http://www.wscom.com.br em 15/05/2009

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