segunda-feira, 25 de agosto de 2008

FGV vê mais solidez na ascensão social

Antônio Goisna
De cada cem trabalhadores das seis maiores regiões metropolitanas que estavam em situação de miséria em janeiro deste ano, 32 aumentaram sua renda e mudaram de classe social após quatro meses. Essa maior mobilidade ajudou a reduzir a desigualdade e encorpou a classe média.

É o que mostra estudo divulgado ontem pelo economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV. A pesquisa identifica que esses movimentos de aumento da classe média e de redução da desigualdade, que começaram a ser detectados nesta década, continuam fortes neste ano.

Como resultado, a proporção de miseráveis nas maiores regiões metropolitanas caiu de 35% para 25% de abril de 2002 a abril de 2008. No período, a classe média, que era 44% da população, chegou a 52%.

Resultados semelhantes foram encontrados em outro levantamento divulgado pelo Ipea (leia texto nesta página).

O estudo da FGV definiu como classe média a população cuja renda domiciliar total se situava entre R$ 1.064 e R$ 4.591. Foi incluído na classe E, abaixo da linha de miséria, a população cuja renda domiciliar fosse inferior a R$ 768.

Neri explica que sempre houve grande mobilidade social no Brasil, principalmente no caso de pobres que conseguiam subir para a classe média, mas logo voltavam para a pobreza. Desta vez, ele diz que os dados são mais animadores: "Esse movimento não parece mais um vôo de galinha, como tantos que tivemos no Brasil".

Analisando a mobilidade entre classes sociais nas regiões metropolitanas, o estudo de Neri mostra que, em 2003, 79% dos trabalhadores conseguiram permanecer na classe média num período de quatro meses. Em 2008, esse percentual aumentou para 85%.

No caso da classe E, o percentual dos que conseguiram ascender passou de 27% para 32%, sendo que 16% foram para a classe D, 15% para a classe média (C) e 1% chegou à elite (classe A ou B).

A maior mobilidade, no entanto, acontece na classe D, aquela situada entre os miseráveis (E) e a classe média (C).

Em 2003, o movimento desses trabalhadores era ligeiramente mais descendente (24% caíram para a classe E) do que ascendente (23% foram para a classe C). Em 2008, o percentual dos que subiram foi de 30%, exatamente o dobro dos que caíram: 15%.

Para o economista, esses dados são positivos e se refletem na melhoria da distribuição de renda. "A queda na desigualdade que estamos presenciando agora é espetacular, com uma intensidade comparável à do crescimento da concentração da renda na década de 1960. O Brasil descobriu nesse movimento uma espécie de poço de petróleo que, bem explorado, está ajudando a tirar milhões de famílias da miséria.

"Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, mesmo com o cenário externo menos favorável, a tendência é que a classe C continue crescendo no país graças à geração de empregos.

"A tendência de oferta de crédito ainda é favorável, e o setor de construção segue investindo pesado. Isso dá mais garantias para a classe média se expandir. O cenário externo ainda não deve atrapalhar, nem ajudar", diz Vale.

Quarta-feira, 6 de Agosto de 2008, Folha de S. Paulo.

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