quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Desenvolvimento e desigualdades regionais

Odenildo Sena*

Dia desses tive minha atenção voltada para uma declaração, em tom de desabafo, do bom paraibano doutor Lynaldo Cavalcante, ex-presidente do CNPq. Como um guerreiro cansado de tantas batalhas que se dá o legítimo direito a uma pequena trégua, lamentava que a bandeira de luta contra as desigualdades regionais, para muitos, estivesse fora de moda. Já não se ouve falar nisso com entusiasmo. Os poucos que ainda ousam comprar essa briga são tidos como ultrapassados, registrava em sua voz aguda e sempre pausada. Ato contínuo, senti-me um desses fora de moda e ultrapassados. No caso particular do desenvolvimento da ciência, tenho levado aonde posso a denúncia de que os editais nacionais, lançados pelas agências federais de fomento, se, aparentemente, oportunizam a livre competição de pesquisadores de todo o país, na verdade acabam mesmo é contribuindo para que as desigualdades se cristalizem, mantendo as regiões privilegiadas neste patamar e as demais em situação de penúria. Ou seja, quem está bem continua bem e quem está em dificuldade continua em dificuldade. É natural, por exemplo, que em uma concorrência nacional o Sudeste sempre leve a melhor, captando soma considerável de recursos, uma vez que aquela região abriga pelo menos 54% dos pesquisadores doutores do país. Entendo que não é conseqüente comprometer um desenvolvimento científico já consolidado. Mas não é natural que a região norte, que conta com apenas 4% dessa massa crítica, continue, por conta dessa condição desigual, captando tal proporcionalidade sem nenhum incentivo adicional, a despeito do histórico, mas hoje já cansado e quase desacreditado discurso, de que essa região é estratégica para o país. Em situação semelhante vivem as regiões nordeste e centro-oeste. Insisto em alimentar a crença de que as desigualdades regionais em nosso país representam uma perversa e odiosa herança banhada pelo preconceito e apoiada na insustentável tese de que alguns nasceram para brilhar, outros, para espectadores desse brilho. O Brasil é um país grande, mas nunca será um grande país, se grandes continuarem sendo apenas alguns estados do sul e do sudeste, como São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Isso é nocivo à soberania da nação.

*Odenildo Sena é presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap).
11 de agosto de 2008

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