quinta-feira, 1 de março de 2012

A (injustificável) destruição do Cerrado

José Eustáquio Diniz Alves é colunista do Portal EcoDebate e doutor em demografia e professor titular do mestrado em ENCE/IBGE (e-mail: jed_alves@yahoo.com.br).

Quando Juscelino Kubitschek decidiu construir Brasília não pensou apenas em fazer uma capital que pudesse integrar as diversas regiões do País, mas abrir novas oportunidades para a exploração do Cerrado, fechado à exploração humana. Juscelino desejava uma grande expansão da agricultura e da pecuária numa região inexplorada.

JK foi um expoente da visão desenvolvimentista que visava transformar o Brasil instalando indústrias, construindo cidades modernas, implantando uma arquitetura de cimento e aço, construindo hidrelétricas, explorando petróleo e modernizando o campo. Além da presença no governo JK, a ideologia desenvolvimentista esteve presente nos governos militares e nas “gestões populares” que contabilizam a bem-vinda redução dos índices de pobreza no País.

Para o desenvolvimentismo, o poderio de um país se dá pelo crescimento populacional e econômico e avanço do mercado interno. Quanto maior é o mercado interno, mais auto-suficiente, influente e forte é considerada uma nação. Quanto maiores forem as exportações, maiores serão as reservas cambiais, a força da moeda e o poder de compra. No Brasil, os dirigentes buscam colocar em funcionamento os fatores de produção: capital, terra/água e trabalho.

Nesta lógica, o Cerrado é uma fonte muito rica em oportunidades econômicas. O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, estendendo-se por uma área de 2.045.064 km2 e cortado por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônia, Paraná e São Francisco).

O processo de mecanização transformou o Cerrado em grande impulsionador do agronegócio brasileiro, ajudado pela topografia plana e o baixo preço das terras.

A monocultura de soja, milho, cana-de-açúcar, sorgo e frutas tem promovido uma grande devastação da vegetação natural, ajudada pelas plantações de eucalipto para produção de carvão e celulose. Também a pecuária contribui para o desmatamento, por meio da plantação de gramíneas exóticas nos pastos e a depleção das fontes de água.

Na expansão do agronegócio, o que mais se expande é a generalização de imensos campos de monoculturas irrigadas no sistema de pivô central, que provocam um sobre-uso das águas do Planalto Central e esvaziam as nascentes e os aquíferos. Isto provoca um quadro de aniquilação da biodiversidade. Atualmente restam apenas 20% da cobertura da vegetação original do Cerrado e inúmeras espécies já foram extintas.

Populações nativas ou indígenas foram expulsas e perderam suas fontes de subsistência. Muitas terras estão deixando de ser produtivas por conta da erosão e das imensas crateras (voçorocas) que se espalham pela região.

O jornal inglês The Guardian publicou um slide-áudio onde mostra que o Cerrado está sendo destruído a um ritmo incrível, para dar lugar às monoculturas vegetais e ao gado, com efeitos devastadores sobre o presente e o futuro da região.

Mas a reação da sociedade brasileira tem sido mínima, pois é com o dinheiro das exportações dos novos produtos do Cerrado que o Brasil consegue obter parte do superávit comercial, criando reservas internacionais, que permitem aos ricos e à classe média viajarem para o exterior.

A destruição do Cerrado está sendo feita sem nenhuma justificativa mais “nobre”, mas simplesmente para manter um modelo consumista voltado para atender a demanda egoísta de algumas parcelas privilegiadas da população.

(O texto foi originalmente publica no EcoDebate, 03/02/2012: http://www.ecodebate.com.br/2012/02/03/a-injustificavel-destruicao-do-cerrado-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/)
Boletim ViaInTC / Fevereiro de 2012

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