terça-feira, 25 de novembro de 2008

Há 70 anos educando as massas

São Paulo, 3 de Novembro de 2008

No final da década de 1940, o Brasil tinha cerca de 50 milhões de habitantes, a maioria vivendo na área rural e praticamente sem educação. Na época, estudar era uma coisa de elite. Esse Brasil que mais tarde iria explodir industrialmente, e que tudo estava por fazer, serviu de inspiração para o negócio desenvolvido pelos irmãos Warghaftig, Jacob e Michael, o Instituto Universal Brasileiro (IUB). Quase 70 anos depois e 4 milhões de alunos em cursos por correspondência nesse período, o IUB começa em janeiro de 2009 uma nova etapa do ensino a distância. O instituto conseguiu autorização para ministrar cursos técnicos do nível médio reconhecidos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Inicialmente serão quatro cursos: técnico de transações imobiliárias, gestão comercial, secretária e secretária de escola. Para obter o diploma técnico, o aluno precisa ter concluído o ensino médio ou estar cursando - pode ser concomitantemente, desde que o estudante termine o técnico junto com o ensino médio.
Para o presidente do Instituto Universal Brasileiro, Luiz Fernando Naso, a empresa teve de adaptar-se às exigências do mercado, que valoriza o diploma oficial. Além dos futuros cursos técnicos, o IUB é credenciado para ministrar cursos supletivos a distância do ensino fundamental e médio. Do faturamento da empresa, não revelado por Naso, 70% são provenientes dos cursos profissionalizantes.
Embora não concorde com a exigência de diploma oficial para reconhecimento do ensino profissional, o empresário, que chegou até o terceiro ano da faculdade de Direito, tem mantido na grade de ensino a distância cerca de 40 cursos bastante atuais para o mercado de trabalho, como informática, administração, manutenção de computador, eletrônica, mecânica e construção civil.
O embrião do ensino por correspondência da empresa foi o Instituto Monitor, fundado pelos irmãos Warghaftig em 1939. Depois de algumas divergências entre os Warghaftig, houve uma cisão da empresa. Jacob ficou com o Monitor e Michael abriu o IUB. Com um tino comercial bastante aguçado, Michael entendeu a importância de investir em divulgação para vender seus cursos. Em 1942, ao abrir o curso de contabilidade o IUB usou a revista de maior popularidade na época, O Cruzeiro, controlada pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que também importou televisores e instalou a primeira estação de TV no Brasil.
Mesmo com a precariedade dos meios de comunicação da época, a revista era uma grande alavanca para propagar os cursos do IUB. A empresa desde o início - e até os dias de hoje - investe 30% das vendas em propaganda. Em 1952, no lançamento da Capricho, a primeira revista feminina do Brasil, o IUB esteve presente com anúncio de página dupla. Esse apoio dado inicialmente ao empresário Victor Civita, fundador da Editora Abril, valeu para o IUB um estreito relacionamento comercial por décadas. "Em 1982, o IUB tinha pendências financeiras com a Editora Abril, fui pessoalmente falar com o senhor Victor Civita, que parcelou a dívida e voltamos a anunciar", relembra Naso.
Ao 54 anos, o empresário praticamente foi criado dentro dos cursos por correspondência. Em 1952, seu avô, José Naso Júnior, fundou a instituição Ensino Técnico Paulista, tendo como base um curso de relojoeiro. Em 1958, foi a vez de seu pai, Luiz Carlos Naso, jornalista da Rádio Marconi, elaborar um curso de fotografia. Com a revolução de 1964, seu pai, cassado nos primeiros momentos do AI-1 (Ato Institucional n.º1), foi trabalhar na empresa herdada de seu avô, que morrera em 1961. Já nos anos 70, seu pai e os irmãos estavam todos trabalhando na Escolas Associadas de Cursos Livres. Em 1982, após a morte de Michael, a viúva Maria Warghaftig vendeu o Instituto Universal Brasileiro para a família Naso.
De lá para cá, muita coisa mudou. O empresário e o irmão José Carlos promoveram uma ampla reestruturação dentro da companhia. Enxugaram a estrutura de 600 funcionários pela metade e contrataram novos profissionais especializados eventuais, que ajudaram na formulação de cursos, apostilas e aulas. Como forma de baratear os custos de produção de materiais utilizados nos cursos práticos – de beleza, corte e costura, eletricista, jardinagem, aroma e outros -, os irmãos montaram um parque gráfico com 7 mil metros quadrados na cidade de Boituva, a 100 quilômetros da capital paulista. "Trabalhamos com um público carente de conhecimento que não pode pagar um curso muito caro", diz Naso.
Dos seis mil alunos anuais que se formam nos cursos por correspondências profissionalizantes, a maioria paga em média entre R$ 300 e R$ 400. Acima desses valores estão os estudantes que fazem supletivo do ensino fundamental e do ensino médio e pagam em torno de R$ 800 pelos cursos. Nestas modalidades, o IUB tem formado dois mil alunos por ano. Na última formatura, em setembro, no clube Piratininga, em São Paulo, o empresário, que é filiado ao Partido Popular Socialista (oriundo do PCB), convidou como paraninfa da turma a ex-candidata a prefeitura da capital paulista Soninha Francine, também do mesmo partido. A candidata ficou emocionada com o depoimento da aluna Araci, uma senhora de 64 anos que tirou o diploma do ensino fundamental. "Minha filha, desde os dez anos sonho com esse dia e finalmente consegui", disse dona Araci para Soninha, que neste dia não falou de política.
Assim como dona Araci, Naso conta que há depoimentos de pessoas que fizeram cursos profissionais no IUB para ajudar no sustento da família. A história mais famosa na coleção de depoimentos da empresa é de uma senhora no sul da Bahia que estudou pelas apostilas o curso de corte e costura. Com o dinheiro do trabalho de costureira ajudou a formar os filhos, entre eles o ex-ministro da Educação Eraldo Tinoco - no governo Fernando Collor de Mello -, morto em abril deste ano.
Uma peça fundamental nos negócios do IUB, desde a fundação, é a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). "No passado, os Correios serviam de ponto de encontro das pessoas que iam buscar suas correspondências. Era o único conhecimento que o Brasil tinha, tirando as capitais", comenta Naso. O empresário reconhece que os tempos modernos trouxeram o computador às casas das pessoas, mas nem todo mundo tem equipamento nos 5.560 municípios brasileiros. Não é à toa que 45 mil correpondências são enviadas pelo IUB, em Boituva, para seus alunos. "Muitas matrículas hoje são feitas pela internet, porém as apostilas e as lições corrigidas têm de ser mandadas pelos correios", afirma Nazo, em sua sala no 11 andar de um prédio antigo no calçadão da avenida São João, na capital paulista. "O Brasil é muito grande e o nosso pessoal vem do Brasil inteiro", diz confiante no ensino a distância.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Edilson Coelho)

Nenhum comentário: