sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Cadê as bibliotecas?

Faltam espaços e profissionais para o funcionamento das salas de leitura

A leitura é pré-requisito básico para a formação de um cidadão. Para compreender a própria língua, as imagens, os códigos, os gráficos, um aluno precisa aprender a ler. Só assim ele será capaz de aprender os conteúdos transmitidos em sala de aula e conseguirá bons conceitos em avaliações nacionais e internacionais. O desafio para formar leitores, imposto às escolas e educadores, é enorme. E o pior: as condições para superá-lo não são as melhores. Apesar de o Ministério da Educação e os governos locais já investirem na aquisição de livros para as escolas públicas, ainda faltam espaços para promover a leitura. As bibliotecas não são realidade em todos os colégios. Aliás, existem a proporção de bibliotecas escolares no país é pequena. De acordo com a Secretaria de Educação Básica do MEC, existem 10.822 bibliotecas nas escolas públicas de ensino médio do Brasil. Isso representa 63,4% do total de estabelecimentos de ensino nessa etapa. No ensino fundamental, há 30.506 bibliotecas, localizadas em apenas 22,3% das escolas. No Distrito Federal, os números do último Censo Escolar, de 2006, assustam ainda mais. Do total de 620 escolas que compõem a rede pública (considerando todas as etapas da educação básica), apenas 75 possuem bibliotecas ou salas de leitura. No caso do ensino médio, que possui 77 colégios, apenas nove aparecem na lista das que possuem o espaço. Gilmar Vilela da Silva, gerente de multimídia da Secretaria de Educação do DF, responsável pelas bibliotecas escolares, admite que a realidade está longe do desejável. “É uma preocupação. Todas as escolas precisam de bibliotecas. Falta pessoal e espaço”, diz. Não existe concurso para bibliotecários na rede pública. Professores que precisam deixar a sala de aula acabam exercendo o papel desses profissionais. Mas ainda assim a quantidade é insuficiente. Além disso, como a sala de aula é prioridade para a Secretaria de Educação, muitos desses educadores foram retirados das bibliotecas que cuidavam para suprir carências de professores nas escolas. O resultado é que há espaços destinados aos livros trancados e acumulando poeira em vários colégios. Norma Lúcia Queiroz, professora do Departamento de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, diz que as bibliotecas são espaços indispensáveis para a formação dos alunos. “Ninguém se torna leitor se não tiver lugar onde escolher obras e perceber que o ambiente é seu”, ressalta. Ela destaca que o professor que está em sala de aula precisa ser envolvido nas atividades de promoção da leitura para que o processo seja eficiente. As ações Gilmar destaca que os acervos das escolas estão sendo formados a partir de programas do MEC, como o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), que envia títulos de literatura e obras de referência aos colégios, e o Ler é legal, da própria secretaria, que dá créditos às escolas para que os alunos comprem as obras de seu interesse durante a Feira do Livro de Brasília. Há também outros dois projetos em andamento para fortalecer a leitura: a Caixa-estante (minibiblioteca que circula pelas salas de aula) e Leitura de jornais (que distribui jornais às escolas). O PNBE foi criado em 1997 com o intuito de ajudar as escolas do país a formar acervos literários e de livros paradidáticos, que incentivassem a formação de leitores. Ao longo desses anos, a Secretaria de Educação Básica do MEC percebeu que só a distribuição de livros não resolve o problema. “É preciso formar o professor para a importância da leitura e do uso da biblioteca, e sensibilizar os gestores para a necessidade de dar aos jovens acesso a esses bens culturais”, destaca Jane Cristina Silva, coordenadora geral de Materiais Didáticos. O ensino médio foi incluído no PNBE este ano e todas as escolas receberam 139 títulos diferentes (de acordo com o tamanho, os colégios receberam até três exemplares de cada). No ano que vem, serão mais 300. O ministério estuda agora formas de tornar a biblioteca parte da realidade de todos os colégios. “A leitura não pode ser um momento estanque na vida do aluno. Tem de estar integrada ao cotidiano da escola, como uma das bases do projeto pedagógico”, ressalta Jane.

(Matéria Especial - Caderno Gabarito – Correio Braziliense, 29/09/2008)

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